Pessoas altamente sensíveis e timidez
Desde criança sempre fui hipersensível. Não precisa ser triste, até uma lembrança alegre consegue, muitas vezes, encher meus olhos de lágrimas, mesmo que tente evitar isso a todo custo. Essa, com certeza, é uma característica marcante de pessoas altamente sensíveis.
É claro que ser uma pessoa altamente sensível é muito mais do que ser emotiva ou chorar facilmente, mas isso vai ser assunto para outro post. Eu quero focar aqui é na relação entre ser altamente sensível e timidez.
Também quero deixar claro que nem toda timidez se deve ao fato de a pessoa ser muito sensível, mesmo porque até pessoas extrovertidas podem ser altamente sensíveis.
Não sou especialista no assunto, portanto, vou falar sobre aquilo que eu concluí sobre minha própria experiência de vida e espero que, em se identificando, você possa se sentir melhor de alguma forma.
Timidez na infância
Desde criança sempre fui muito quieta também. Quando tinha cerca de uns 3 anos não entendia porque os adultos riam quando eu dizia alguma coisa engraçadinha (própria de crianças pequenas) e ficava um pouco preocupada, achando que tinha feito algo errado. Às vezes, também achava que estavam zombando de mim quando contavam essas coisas para outras pessoas.
Elas não faziam por mal, mas, como resultado, eu falava menos ainda. Não culpo essas pessoas por isso, afinal, há crianças que, num lado oposto ao meu, adoram que as pessoas deem risadinhas quando elas falam coisas engraçadas. Às vezes, até falam mais por conta disso. O que atrapalhava era a minha maneira sensível de reagir ao comportamento dessas pessoas que achavam graça no que eu falava.
Timidez na adolescência
Quando adolescente, o fato de ser muito quieta piorou muito. Sendo hipersensível, eu observava demasiadamente as expressões faciais das pessoas com quem eu falava e se não sentisse que estava agradando muito com a conversa, eu logo parava de falar.
Além disso, não sabia muito o que dizer quando conversavam comigo. Assim, durante muitos anos, sempre que podia, evitava conversar com pessoas desconhecidas ou que me deixavam inibida.
O que também contribuía para que minha timidez aumentasse era o fato de ficar melindrada com qualquer comentário desagradável. Algumas pessoas ouvem pequenas críticas e não dão a mínima importância, já eu me ofendia demais e acaba me fechando para correr esse risco. Quanto menos me expunha, menos sofria.
Timidez não é defeito, mas sim traço de personalidade, mas, infelizmente, não era assim que eu pensava na época. Quando alguém me dizia que eu era tímida, eu sofria demais porque via aquilo como algo terrível. Já era tão difícil sair da concha e quando me diziam que eu era tímida, eu novamente me fechava toda para não me ferir com esse tipo de comentário. É por isso que acredito que ser hipersensível piorou bastante todo esse quadro.
Superando a timidez
Ainda na fase adulta, era muito fechada e falava pouco, mas lutava para superar a timidez, principalmente ao conversar. O que me ajudou muito foi observar uma pessoa com quem eu trabalhava e que era muito simpática e desenvolta nas conversas. Eu passei a observar como ela interagia nas conversas, como demonstrava interesse em alguns pontos do assunto, como fazia perguntas a respeito do que a pessoa estava falando. Também observava os gestos, a maneira de sorrir e passei a tentar desenvolver essas qualidades em mim. Creio que isso foi muito importante para mim, pois, aos poucos, fui ficando mais tranquila ao iniciar uma conversa e me saindo melhor.
Felizmente, também deixei de ver a timidez como um defeito. Devo isso a um psicólogo que disse algo tão simples, mas que me impactou muito positivamente. Ele recebeu a ligação de uma telespectadora que dizia que sofria, pois era advogada e muito tímida. Ele respondeu e disse algo mais ou menos assim: “Qual o problema? Acho até bonito uma pessoa que fala pouco, que tem um ar mais sábio; muitas vezes a pessoa tímida é aquela que, quando fala alguma coisa, diz algo muito mais interessante porque é mais observadora.” Acho que a partir daí fui mudando meu ponto de vista a respeito de ser tímida até que um dia isso deixou de vez de me incomodar.
Como me sinto agora
Continuo muito quieta, mas acredito que isso se deva também ao fato de que nunca gostei de “small talk” ou de “jogar conversa fora”. Mas, afinal, pessoas altamente sensíveis têm um mundo interior tão rico e nem sempre falar sobre coisas corriqueiras pode parecer algo interessante. Por isso mesmo. hoje me considero introvertida e não tímida, pois não deixo de conversar por medo de algum julgamento, mas sim pelo simples fato de não sentir necessidade de conversar.
Contraditoriamente, sempre tive uma mente tão tagarela que me surpreendo quando alguém diz que sou quietinha já que falo o tempo todo, só que comigo mesma. Brincadeirinha.
Hoje eu vejo como uma autoestima baixa atrelada ao fato de ser hipersensível me provocou um sofrimento desnecessário. Por que me depreciei tanto só porque eu estou no grupo das pessoas que não gostam tanto de conversar? Valeu a pena me preocupar com a opinião das pessoas sobre mim a ponto de me apagar completamente só para não receber nenhuma crítica? Com certeza, não havia motivos para supervalorizar tanto as demais pessoas tampouco para me desvalorizar tanto.
Uma coisa é certa: creio que ter sido tão introvertida me proporcionou uma vida interior muito rica e me faz gostar da minha própria companhia e não padecer de solidão. Isso por si só já vale a pena.